Vacina de mRNA provoca resposta imunológica forte contra tumor cerebral

1 de Maio 2024

Num primeiro ensaio clínico em humanos, com quatro adultos, uma vacina de mRNA contra o cancro reprogramou rapidamente o sistema imunitário para atacar o glioblastoma, o tumor cerebral mais letal, revelou hoje a Universidade da Florida (UF).

O glioblastoma está entre os mais terríveis diagnósticos, com uma sobrevida média à volta dos 15 meses. O padrão atual de tratamento envolve a cirurgia, radiação e quimioterapia.

Os resultados do estudo reproduzem os obtidos num teste com 10 cães que tinham desenvolvido tumores cerebrais, cujos donos aprovaram a sua participação dado não existirem outras opções de tratamento, bem como os de um estudo pré-clínico com ratos, indica a universidade dos Estados Unidos num comunicado.

“A descoberta será agora testada num ensaio clínico pediátrico de Fase 1 para cancro no cérebro”, acrescentou.

Divulgada hoje na revista científica norte-americana Cell, esta poderá ser uma nova maneira de utilizar o sistema imunológico para combater cancros resistentes ao tratamento, porque, embora utilize a tecnologia de mRNA e nanopartículas lipídicas (como as vacinas contra a covid-19), usa “células tumorais do doente para criar uma vacina personalizada” e tem “um recém-projetado e complexo mecanismo de fornecimento”.

“Em vez de injetarmos partículas únicas, injetamos aglomerados, (…) estes alertam o sistema imunitário de uma forma muito mais profunda do que as partículas isoladas”, disse Elias Sayour, oncologista pediátrico da UF Health e pioneiro da nova vacina, que orientou o estudo, citado no comunicado.

Esta, como outras imunoterapias, tenta “educar” o sistema imunológico para considerar como estranho o tumor e é administrada por via intravenosa.

Elias Sayour adiantou que “uma das descobertas mais impressionantes foi a rapidez” com que a nova vacina “estimulou uma resposta vigorosa do sistema imunológico para rejeitar o tumor”.

Segundo o investigador, “em menos de 48 horas” a resposta imunológica aumentou e tornou-se “muito ativa”.

“O que isso nos diz é que fomos capazes de ativar muito rapidamente a parte inicial do sistema imunitário contra estes cancros e isso é fundamental para desbloquear os efeitos posteriores da resposta imunitária”.

A nova publicação é o culminar de “resultados promissores” obtidos pela equipa de Sayour ao longo de sete anos de estudos.

Com a aprovação da Food and Drug Administration (FDA – agência norte-americana para proteger a saúde pública), os investigadores realizaram agora este pequeno ensaio clínico, planeado para garantir a segurança e a viabilidade dos testes antes de se fazer um ensaio mais alargado.

“A demonstração de que fazer uma vacina de mRNA contra tumores malignos como esta gera respostas semelhantes e fortes em ratos, cães (…) e doentes humanos com cancros cerebrais é uma descoberta realmente importante, porque muitas vezes não sabemos até que ponto os estudos pré-clínicos em animais se traduzirão em respostas semelhantes nos pacientes”, disse Duane Mitchell, diretor do Instituto de Ciência Clínica e Translacional da UF e do Programa de Imunoterapia para Tumores Cerebrais da mesma universidade, coautor do artigo.

“E embora as vacinas e terapêuticas de mRNA sejam certamente um tema ‘na ordem do dia’ desde a pandemia da covid, esta é uma forma nova e única de fornecer o mRNA para gerar estas respostas imunitárias realmente significativas e rápidas”, acrescentou.

Os cientistas assinalam que, embora seja prematuro avaliar os efeitos clínicos da vacina, os pacientes viveram sem a doença durante mais tempo do que o esperado ou sobreviveram mais tempo do que o previsto.

Os 10 cães de estimação viveram uma média de 139 dias, em comparação com uma sobrevivência média de 30 a 60 dias típica para cães com a doença.

O próximo passo, com apoio da FDA e da fundação CureSearch for Children’s Cancer, é um ensaio clínico de Fase 1 alargado, com até 24 doentes entre adultos e crianças, para validar os resultados.

Assim que for confirmada a “dose ótima e segura”, passar-se-á para a Fase 2, com a participação de cerca de 25 crianças, disse Sayour.

Apesar dos resultados promissores, os autores alertam para a incerteza contínua sobre a melhor forma de aproveitar o sistema imunológico e, ao mesmo tempo, minimizar o potencial de efeitos colaterais adversos.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

ADSE aumenta reembolsos pelas consultas e revê preços em 2025

A ADSE avançou com mudanças para dar mais benefícios em 2025, nomeadamente um limite aos custos suportados com cirurgias no regime convencionado, um aumento dos reembolsos pagos pelas consultas no regime livre e a revisão de alguns preços.

MAIS LIDAS

Share This