Mesmo finalizado um acordo que facilita o comércio sem quotas nem tarifas, têm-se multiplicado as queixas de empresas com os atrasos e custos das novas barreiras, como a necessidade de controlos sanitários, preenchimento de formulários e apresentação de declarações de importação e exportação.
Pescadores da Escócia são alguns dos que estão a sentir o impacto do atrito sentido nas fronteiras, com as exportações de peixe e marisco como salmão, ostras e lagostins a estragarem-se dentro dos camiões e sem chegar a tempo aos clientes no continente europeu, sobretudo França, Bélgica e Espanha, onde antes eram descarregados no espaço de 24 horas.
Tendo em conta que as pescas era uma das principais atividades que seriam beneficiadas pelo ‘Brexit’, o Governo britânico criou um fundo de 23 milhões de libras (26 milhões de euros) para cobrir os prejuízos e apoiar as empresas a ajustarem-se aos novos processos de exportação.
Na Irlanda do Norte, vários grandes supermercados sofreram interrupções no fornecimento que resultaram em prateleiras vazias de alguns produtos alimentares devido à burocracia que implica transportá-los de Inglaterra, já que a região britânica ficou alinhada com as regras do mercado único.
Numa carta conjunta, os presidentes de grupos como a Tesco, Sainsbury’s, Asda e Marks & Spencer escreveram ao governo alertando para o risco de continuarem a ser registadas “perturbações significativas” devido ao sistema “inviável”, exigindo uma solução a longo prazo.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, alegou “problemas de adaptação” e continua a insistir nas “oportunidades” que existem fora da UE, mas para as empresas estas vantagens não são imediatas.
“Não são só problemas de adaptação, esta é a nova realidade a que a indústria tem de se habituar. (…) Vão existir custos adicionais no futuro próximo e isso afeta a nossa competitividade e coloca pressão nos construtores para aumentar a produtividade”, disse o presidente da Associação de Produtores e Comerciantes do Setor Automóvel (SMMT), Mike Hawes.
Politicamente, as relações com a UE deixaram de estar no topo da agenda política, ultrapassada pela pandemia de covid-19 e a crise económica e social que provocou no Reino Unido.
Até o Partido Trabalhista, liderado pelo pró-europeu Keir Starmer, admite que será difícil renegociar com Bruxelas.
“Quer queiramos ou não, esse será o acordo que um novo governo trabalhista vai herdar e terá de fazer funcionar”, disse à BBC, acrescentando não existir “motivo para voltar a aderir à UE”.
Não é o que pensa a chefe do governo autónomo da Escócia, Nicola Sturgeon, que invoca o ‘Brexit’, a que a maioria dos escoceses se opõem, como argumento na campanha por um novo referendo à independência.
Em 2014, 55% escoceses votaram para permanecer no Reino Unido, mas uma sondagem publicada no domingo pelo jornal Sunday Times indicava que 49% dos escoceses são favoráveis à independência e 44% são contra, uma margem de 52% a 48% se forem excluídos os indecisos.
Sturgeon quer sair do Reino Unido e aderir à UE e a aproximação já começou, com negociações iniciadas esta semana com a Comissão Europeia para manter o programa de intercâmbio de estudantes Erasmus.
LUSA/HN
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