Diretor de medicina intensiva do S. João defende confinamento até 21 de março

12 de Fevereiro 2021

O diretor de serviço de medicina intensiva do Hospital de São João, Porto, defendeu esta sexta-feira manter o confinamento até 21 de março, medida acompanhada de uma testagem “robusta”, sugerindo 50 vezes mais testes do que os casos diagnosticados.

Em declarações à agência Lusa, José Artur Paiva defendeu que o “desconfinamento não pode ocorrer antes de dois meses de confinamento”, contado a partir do que chama “confinamento real”, ou seja desde 21 de janeiro, altura em que foi anunciado o fecho das escolas para travar os contágios de Covid-19.

“Diria que o desconfinamento não deve iniciar-se antes de 21 de março”, sublinhou.

Revelando que apreciou “muito” as posições do epidemiologista Manuel Carmo Gomes na reunião do Infarmed de terça-feira, altura em que o professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa fez críticas ao Governo na sua última participação nesta reunião de peritos, José Artur Paiva reafirmou a convicção de que as medidas para conter a pandemia da Covid-19 devem ser tomadas “com base em previsões e não em evidências”.

“Temos de estar um passo à frente da pandemia. E esses critérios não podem ser só relacionados com a transmissão viral”, referiu.

O também presidente do Colégio de Medicina Intensiva da Ordem dos Médicos defende a conjugação de três critérios antes de desconfinar: redução da transmissão viral, alívio da sobrecarga do sistema hospitalar e medidas de saúde pública robustas.

“Temos de estar, sustentadamente, com menos de 2.000 casos por dia. Temos de ter as quartas e quintas-feiras [dias de maior prevalência] abaixo dos 2.000 [casos durante] semanas seguidas e um RT [rácio de transmissibilidade] inferior a 0,8, sustentadamente também. E uma taxa de positividade de testes inferior a 5%”, descreveu.

Quanto ao alívio da sobrecarga do sistema hospitalar, Artur Paiva explicou a preocupação centrada no número de doentes em cuidados intensivos.

“Se desconfinarmos e a coisa correr mal, não podemos ter o sistema de saúde desprotegido. O indicador que mostra que já há um respirar do sistema é a medicina intensiva. Em minha opinião, não devemos desconfinar sem antes termos menos de 250 doentes em medicina intensiva por Covid-19. Sem atingirmos este valor, o risco de uma quarta onda num sistema a sair desta asfixia é muito elevado”, analisou.

O diretor do serviço que tem, atualmente, 85% de taxa de ocupação Covid-19 e 90% não Covid, soma uma terceira ordem de fatores que deseja ver considerados antes do desconfinamento, sintetizando-a como “medidas de saúde pública”.

“Precisamos de uma política de testagem muito mais alargada, com 50 vezes mais testes do que os casos diagnosticados”, referiu.

Apoiado na experiência que teve no terreno nas semanas de grande aumento da curva epidemiológica, quando notou que os doentes chegavam mais tarde ao hospital e com sintomas com sete dias de evolução, Artur Paiva frisou que “a capacidade de uma identificação precoce do diagnóstico e da avaliação dos contactos de alto risco é a única maneira de parar as cadeias de contágio”.

Para isso, sugere testes a todos os contactos de alto risco sem exceção e a profissões com um grau de exposição maior, como por exemplo pessoas que estão a servir ao público ou motoristas de transportes públicos, entre outras.

O diretor de serviço de medicina intensiva do Centro Hospitalar e Universitário de São João (CHUSJ) também sugere que Portugal crie um sistema de vigilância de novas variantes, à semelhança do que já se faz no Reino Unido.

“O INSA [Instituto Nacional De Saúde Dr. Ricardo Jorge] está a trabalhar a área, mas precisamos de criar uma vigilância ativa. Temos de dar atenção especial às pessoas que têm infeção depois de terem sido vacinadas. Pode ser um sinal dessa infeção ser provocada por uma variante.

“Há pouquíssimos e raríssimos casos, mas este vírus tem uma capacidade mutacional extraordinária”, analisou.

Artur Paiva frisou como fundamental a evolução rápida do plano de vacinação, apontando para a vacinação de pelo menos 80% da população “mais frágil” [referindo-se pessoas com 80 anos ou mais ou 50 anos e comorbilidades associadas ou doenças crónicas] antes de um verdadeiro desconfinamento.

A pandemia de Covid-19 provocou, pelo menos, 2.355.410 mortos no mundo, resultantes de mais de 107,3 milhões de casos de infeção, enquanto em Portugal morreram 14.885 pessoas dos 778.369 casos de infeção confirmados.

Lusa/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Novos diagnósticos de VIH aumentam quase 12% na UE/EEE em 2023

 A taxa de novos diagnósticos de pessoas infetadas pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) cresceu 11,8% de 2022 para 2023 na União Europeia/Espaço Económico Europeu, que inclui a Noruega, a Islândia e o Liechtenstein, indica um relatório divulgado hoje.

Idade da reforma sobe para 66 anos e nove meses em 2026

A idade da reforma deverá subir para os 66 anos e nove meses em 2026, um aumento de dois meses face ao valor que será praticado em 2025, segundo os cálculos com base nos dados provisórios divulgados hoje pelo INE.

Revolução no Diagnóstico e Tratamento da Apneia do Sono em Portugal

A Dra. Paula Gonçalves Pinto, da Unidade Local de Saúde de Santa Maria, concorreu à 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH), com um projeto inovador para o diagnóstico e tratamento da Síndrome de Apneia Hipopneia do Sono (SAHS). O projeto “Innobics-SAHS” visa revolucionar a abordagem atual, reduzindo significativamente as listas de espera e melhorando a eficiência do processo através da integração de cuidados de saúde primários e hospitalares, suportada por uma plataforma digital. Esta iniciativa promete não só melhorar a qualidade de vida dos doentes, mas também otimizar os recursos do sistema de saúde

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Cerimónia de Abertura da 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde: Inovação e Excelência no Setor da Saúde Português

A Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH) realizou a cerimónia de abertura da 17ª edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, destacando a importância da inovação e excelência no setor da saúde em Portugal. O evento contou com a participação de representantes de várias entidades de saúde nacionais e regionais, reafirmando o compromisso com a melhoria contínua dos cuidados de saúde no país

Crescer em contacto com animais reduz o risco de alergias

As crianças que crescem com animais de estimação ou em ambientes de criação de animais têm menos probabilidade de desenvolver alergias, devido ao contacto precoce com bactérias anaeróbias comuns nas mucosas do corpo humano.

MAIS LIDAS

Share This