“Neste momento, vamos começar a avançar com a cirurgia de adolescentes”, provavelmente, a partir dos 16 anos, adiantou o especialista da Unidade de Tratamento Cirúrgico da Obesidade do CHULC, que falava à Lusa a propósito do Dia Nacional da Luta Contra a Obesidade, assinalado hoje.
Atualmente, o CHULC, que integra os hospitais S. José, Curry Cabral, Estefânia, Santa Marta, Capuchos e Maternidade Alfredo da Costa, só faz este tipo de cirurgia a partir dos 18 anos.
“Temos jovens de 18 anos, já oficialmente adultos, que já foram submetidos a cirurgia, mas no futuro vamos passar a ter ainda mais jovens”, na sequência de uma colaboração do Hospital Curry Cabral com o hospital pediátrico D. Estefânia, disse o endocrinologista.
José Silva Nunes explicou que os cirurgiões pediátricos e os pediatras do Hospital D. Estefânia vão também acompanhar esses jovens candidatos depois da cirurgia bariátrica.
“Neste momento, as idades [em que se fazem este tipo de cirurgias] são entre os 18 e os 65 anos, se bem que a questão do limite superior seja um bocadinho elástica, porque se uma pessoa tiver 66 anos e tiver uma obesidade severa e tiver múltipla patologia secundária, não é por causa de um ano que nós vamos negar uma solução benéfica para a sua saúde”, salientou.
O especialista referiu que no passado já tiveram doentes com 15 anos que foram intervencionados, mas que o plano deverá abranger jovens com 16 anos.
Recordou que o Hospital Curry Cabral já teve uma consulta multidisciplinar de obesidade infantil, mas que não era com fins cirúrgicos.
“Havia uma consulta multidisciplinar, com endocrinologia, psicologia e nutrição, e tínhamos alguns jovens muito perto dos 200 quilos, mas que não avançaram para a cirurgia nessa fase”, contou.
Segundo José Silva Nunes, quem recorre maioritariamente à cirurgia bariátrica para perder o excesso de peso são as mulheres, entre 80 a 85% do total dos doentes.
“Não é que os homens não sejam obesos, mas muitos deles têm pudor de procurar ajuda e outros consideram que estão como estão e não estão sensibilizados” para o problema, comentou.
Contudo, realçou o endocrinologista, a cirurgia “não é pela questão estética”, mas pelas implicações que a obesidade tem para a saúde, como um risco aumentado de cancro, diabetes, hipertensão, doença coronária, apneia obstrutiva do sono.
“A pessoa pensa que um doente com cancro é um doente magrinho, obviamente também há doentes magrinhos, que infelizmente acabam por ter processos neoplásicos, mas a obesidade por si só confere um risco aumentado de múltiplos cancros”, alertou o endocrinologista.
Portanto, rematou, “há uma panóplia brutal de patologias que são secundárias ao excesso de tecido adiposo, portanto, melhorando ou diminuindo a quantidade de gordura que a pessoa apresenta diminui inerentemente essas comorbilidades que as pessoas apresentam”.
João Silva Nunes alertou ainda que “o sedentarismo é uma das principais causas do aumento de peso” e “a população portuguesa é muito sedentária”.
A Organização Mundial de Saúde estima que haja 650 milhões de adultos a viver com obesidade em todo o mundo. Em Portugal, segundo o Inquérito Nacional de Saúde 2019, os dados apontam para 1,5 milhões de pessoas.
LUSA/HN
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