Estrangeiros e não residentes continuam sem poder entrar em Macau

14 de Julho 2020

As autoridades de Macau precisaram hoje que as fronteiras com a província chinesa de Guangdong, abertas a partir de quarta-feira a cidadãos dos dois territórios, vão continuar fechadas a estrangeiros não residentes, incluindo "pessoas com passaporte português".

Guandgong, responsável pela esmagadora maioria dos apostadores nos casinos de Macau, anunciou hoje o fim da quarentena para viajantes que regressem do território, a partir de quarta-feira. A isenção de quarentena já estava em vigor desde 06 de julho em sentido inverso, de Guangdong para Macau.

A medida, que se limita à circulação em nove cidades (Cantão, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan, Jiangmen e Zhaoqing), não se aplica, no entanto, a estrangeiros e não residentes nos dois territórios, que continuam sem poder entrar em Macau e na China, tal como já acontecia até aqui.

“Esta medida só se aplica aos cidadãos da China e de Macau”, precisaram as autoridades, em resposta a questões de jornalistas, durante uma conferência excecional dos serviços de saúde para esclarecer as dúvidas suscitadas pelo anúncio do levantamento da quarentena.

“De acordo com um despacho do chefe do executivo” de Macau, para os estrangeiros não residentes no território, “ainda é proibida a sua entrada” em Macau, acrescentaram.

“Os residentes de Macau não chineses, com passaporte português, por exemplo (…), não podem entrar sem visto de entrada na China”, tal como já acontecia até aqui, exemplificaram.

Sobre a questão de saber quem beneficia da isenção da quarentena anunciada hoje para as pessoas que circulem entre o território e nove cidades de Guandgong, as autoridades precisaram ainda que os viajantes que “tiverem o BIR [Bilhete de Identidade de Residente] de Macau já não têm de se sujeitar à observação médica” de 14 dias.

Os viajantes terão no entanto de apresentar um teste de ácido nucleico negativo, não só na passagem da fronteira, como para entrar nos casinos.

Os trabalhadores dos casinos, incluindo “‘croupiers’, seguranças, funcionários da tesouraria e todos os que estejam em contacto dos clientes”, também vão ser sujeitos a despistagem da doença, à semelhança do que já acontecia com outros grupos considerados de risco, como os professores, anunciaram ainda as autoridades.

Segundo analistas ouvidos pela Lusa, a isenção de quarentena entre Guandgong e Macau, anunciada hoje, é considerada essencial para a recuperação económica dos casinos, que registam quebras de 97% mensais.

“A província de Guangdong é a ‘tigela de arroz’ de Macau, gerando o grosso das receitas do jogo. A China representa mais de 90% das receitas. Desse montante, Guangdong é responsável por 80%”, disse à Lusa Ben Lee, analista da consultora de jogo IGamix, dias antes do anúncio do Governo da província chinesa.

Por essa razão, o analista considerou que o acordo, agora divulgado, deverá levar “a uma rápida recuperação nas receitas” dos casinos do território.

As fronteiras de Macau já estavam abertas a visitantes da China continental, mas a exigência de 14 dias de quarentena no território ou no regresso estava a colocar um entrave ao fluxo de apostadores para os casinos, explicou também Ben Lee.

Hoje, logo após o anúncio do fim da quarentena entre os dois territórios, as vagas disponíveis em Macau para a realização do teste de ácido nucleico exigido esgotaram.

“Às 10:00 abrimos as 5.000 vagas no sistema, mas em três minutos, ficaram esgotadas”, disse o responsável da Saúde, Alvis Lo Iek Long, durante a conferência. O sistema foi suspenso, devendo ser retomado na quarta-feira, a partir das 10:00, anunciou o responsável da Saúde.

Atualmente, a capacidade máxima diária de realização de número de testes de ácido nucleico em Macau é de 16 mil pessoas, mas os Serviços de Saúde decidiram manter disponíveis temporariamente “apenas cinco mil vagas diárias”, até os procedimentos estarem normalizados.

A razão, explicou o médico Alvis Lo Iek Long, é que é necessário também converter o código de saúde dos dois territórios, uma exigência que pode contribuir para a concentração de pessoas nas fronteiras, o que poderia aumentar a possibilidade de contágio.

“Não queremos que haja uma grande afluência nos postos fronteiriços, porque a população ainda não está habituada a obter a conversão do código de saúde de Macau com o código de Guangdong”, disse Alvis Lo Iek Long.

As autoridades reforçaram ainda as medidas de prevenção da epidemia nos casinos, “tendo em vista a saúde dos seus trabalhadores e visitantes”.

A partir desta quarta-feira, a Direção de Inspeção e Coordenação de Jogos (DICJ) passará a exigir a todos os visitantes que pretendam entrar nos casinos “a medição de temperatura corporal e a exibição de código de identificação de saúde e certificado de teste de ácido nucleico válidos”, devendo o teste ter sido realizado nos sete dias anteriores, de acordo com um comunicado do Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus.

Além disso, as autoridades vão realizar “inspeções rigorosas em todos os casinos” e continuar a exigir a manutenção da “boa qualidade do ar” naquelas instalações.

As pessoas “que pretendam entrar nos ‘resorts’, hotéis ou pensões em Macau estarão também sujeitas à medição de temperatura corporal e à exibição de código de identificação de saúde”, acrescentou-se na mesma nota.

Macau foi dos primeiros territórios a identificar casos de infeção com a covid-19, antes do final de janeiro. O território registou então uma primeira vaga de dez casos. Seguiu-se outra de 35 casos a partir de março, todos importados, uma situação associada ao regresso de residentes, muitos estudantes no ensino superior em países estrangeiros.

O caso mais recente, o 46.º no território desde que o surto começou, registou-se em 25 de junho. Macau não registou nenhuma morte relacionada com a doença.

LUSA/HN

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