Espaços infantis privados vazios e com o futuro incerto

27 de Setembro 2020

Há seis meses que os risos das crianças desapareceram do Anima Park e do Hello Park, dois dos espaços infantis privados que foram obrigados a fechar portas devido à covid-19 e que permanecerão em silêncio por tempo indeterminado.

A imagem das crianças a descer, a toda a velocidade, os enormes escorregas ou a desafiar as alturas no ‘slide’ de 20 metros, colocado no teto, parecem já distantes na memória de César Batas.

Natural do Rio de Janeiro, no Brasil, de onde chegou em 2017, este empresário, de 40 anos, manifesta-se apreensivo com o futuro do Anima Park, um parque infantil que abriu há um ano no concelho de Cascais, e no qual investiu 350 mil euros.

“Estou a tentar segurar o máximo que eu posso. Tem uma hora em que o oxigénio vai acabar e espero não perder todo o investimento que eu fiz aqui. O dinheiro que guardamos a vida inteira para investir num negócio e, infelizmente, vem uma pandemia”, afirma com ar cabisbaixo à agência Lusa.

O Anima Park, à semelhança de cerca de 500 espaços semelhantes, encontra-se encerrado desde março deste ano devido à covid-19, não tendo ainda uma previsão de abertura.

Até à data de encerramento, César Batas dispunha de nove funcionários fixos, mas nos períodos de maior procura “o número de colaboradores chegou a ser de 25”.

“O nosso plano de negócios estava a ir muito bem. Chegámos a fazer 100 aniversários em novembro. Estávamos a ir muito bem”, sublinha.

A impossibilidade de reabrir o espaço e a ausência de faturação está a causar grandes transtornos ao empresário, que se queixa, sobretudo, do valor da renda”.

“Financeiramente, nós, além de não termos faturação, também tivemos de devolver muitos aniversários, que pediram devolução. Isso balançou-nos bastante”, conta.

César Batas diz que a ajuda do governo chegou aos empresários do setor, através de linhas de apoio, mas que se tem manifestado insuficiente.

Este empresário usufruiu de uma “linha de apoio, a primeira que saiu”, mas já terminou.

“Pensámos que seria para três meses e já estamos no sexto fechados. Essa linha já acabou”, disse, acrescentando que não é renovável.

Também no Hello Park, situado no Parque Recreativo do Alto da Serafina, em Lisboa, os gritos de alegria e as brincadeiras dos mais pequenos deu lugar a um silêncio e a um vazio desolador.

O proprietário do espaço, que tem como ex-libris um barco pirata e uma casa na árvore, é André Resende, que não tem dúvidas em afirmar que, ao manterem encerrados estes parques, “estão a roubar a infância das crianças e o direito de celebrarem o seu aniversário com os amigos”.

“Queremos abrir portas, voltar a trabalhar. Nós precisamos, os pais precisam e, sobretudo, as crianças. Nós não podemos estar a hipotecar o futuro das crianças. A infância é só uma”, sublinha.

O funcionamento do Hello Park representou, desde a sua abertura, um investimento de quase um milhão de euros e emprega oito funcionários fixos e um conjunto de monitores.

Apesar da situação dramática, a administração do Hello Park conseguiu manter todos os postos de trabalho fixo.

“Mantivemos todos os postos de trabalho que tínhamos fixos. Obviamente que não contratámos mais ninguém, porque não temos necessidade”, justifica.

As dificuldades e o desespero sentido pelos empresários do setor dos espaços infantis privados levaram a que André Resende assumisse a liderança de um processo de criação de uma associação que reivindicasse junto do Governo e das autoridades de Saúde uma autorização para a retoma da atividade, a Associação Nacional de Espaços Infantis (ANEI).

“Fizemo-lo há relativamente pouco tempo e será aqui a nossa luta, neste momento, em termos de associação, conseguir encontrar uma forma segura e responsável para podermos reabrir esta atividade. A única coisa que nós queremos é que nos deixem trabalhar e que não nos façam sentir abandonados”, sublinha.

O empresário refere que já apresentou vários planos de contingência à Direção-Geral da Saúde (DGS) e garante que os empresários estão “empenhados” em cumprir todas as normas que vierem a ser determinadas.

“Nós apresentámos regras, nós definimos metodologias, nós criámos procedimentos, nós faremos tudo aquilo que for necessário para zelar pela maior segurança possível, mas queremos abrir portas. Queremos voltar a trabalhar”, apela.

Até que haja uma resposta do Governo e das autoridades de Saúde estes espaços infantis irão permanecer vazios à espera que algazarra e a alegria contagiante dos mais pequenos regresse em força.

“Num sábado solarengo estariam aqui 200 crianças a brincar. Neste momento tem aqui uma cara séria e cansada destes tempos amargos quando poderia ter aqui 200 bonitos sorrisos espalhados pelo parque. É sobretudo disso que temos saudades”, afirma emocionado o gestor do Hello Park.

A Lusa contactou o Ministério da Economia, que disse estar a acompanhar a situação e que “oportunamente acrescentará informações”.

Também a DGS foi contactada, mas ainda não foi possível obter uma resposta.

Todas as atividades relativas aos salões de dança ou de festa, parques de diversões e parques recreativos e similares permanecem encerrados.

Em julho o Governo autorizou o funcionamento de equipamentos de diversão e similares mediante o cumprimento das regras sanitárias e de segurança aplicáveis, exceto nas áreas em que seja declarada situação de calamidade ou de contingência, mas esta autorização abrangeu apenas as atividades itinerantes.

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