Contactado pela agência Lusa, o diretor do museu, Joaquim Caetano, revelou que as restrições do confinamento obrigaram à interrupção do projeto de restauro da obra icónica criada em 1470 pelo pintor português Nuno Gonçalves, prevista para o período 2020/2022, que já vem sofrendo atrasos desde o início do primeiro confinamento, em março do ano passado.
“O problema é que tudo demora mais [com as interrupções], e enquanto não estiverem feitos todos os exames, não se pode progredir. Umas coisas atrasam e paralisam as outras”, comentou o responsável sobre o projeto, novamente parado desde 15 de janeiro, porque os restauradores não podem juntar-se no museu.
O processo de restauro do mítico políptico estava a decorrer à vista dos visitantes do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) desde maio de 2020, com as pinturas instaladas numa “casa” própria, para serem alvo de exames com tecnologia muito sofisticada.
Desde então, estiveram no museu especialistas italianos e espanhóis para se avançar com o estudo do conjunto, mas desde o final do verão de 2020, quando a expansão da pandemia se alargou, “os atrasos foram-se sucedendo, porque as viagens internacionais ficaram muito condicionadas”.
O objetivo deste restauro à obra maior da pintura portuguesa do século XV é, essencialmente, a sua conservação, recuperando o mais possível o original que o artista fez, e mantendo a estabilidade e conservação das peças, para que continuem a perdurar no tempo.
Sobre a retomada do processo, Joaquim Caetano está esperançoso: “O mais tardar os trabalhos vão ser retomados em março”, disse à Lusa.
O diretor do MNAA disse ainda que “houve a necessidade de realizar uma série de passos que eram demorados. Foi feita uma análise de todos os materiais, (…) um estudo sobre as madeiras, a realização de um mapa das zonas de intervenção, alguns trabalhos de análises de vernizes e lacas”.
“Agora tem de se juntar tudo, e propor uma metodologia de intervenção, reunir todos os especialistas estrangeiros. Esperávamos que esta parte estivesse pronta em outubro, mas a pandemia alterou tudo”, lamentou.
Deste longo processo, os investigadores esperam que se revelem aspetos do trabalho do pintor régio de Afonso V, danos e outras marcas que irão contribuir para contar a história dos painéis.
Descoberto no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Alfama, Lisboa, em 1882, o políptico foi alvo de um grande restauro pela mão de Luciano Freire, em 1909 e 1910, e outro, já nos anos de 1950, por um seu aprendiz, Fernando Mardel.
Enquanto decorre o confinamento, a direção do MNAA está a fazer diligências para prolongar a atual exposição “Guerreiros e Mártires”, sobre os 800 anos do martírio de um grupo de franciscanos italianos no norte de África.
“Estamos a tentar obter a autorização da maior parte dos emprestadores para estender mais um mês, pelo menos, esta exposição, que estava para terminar no final de fevereiro, para tentar ficar até ao fim de março”, indicou Joaquim Caetano, sobre as peças cedidas por 50 a 60 entidades.
Além desta, o MNAA está a preparar “a grande exposição deste ano” no museu, que é a dos 500 anos da morte do rei Manuel I, para julho.
Até à reabertura do museu, estão a ser desenvolvidas ‘online’ atividades para o público, nomeadamente os programas do serviço educativo, respeitantes a itinerários a partir da iconografia da flora e fauna da coleção.
O ciclo de visitas “Fauna e Flora: Outros Olhares” tem apresentação na plataforma Zoom todas as quartas-feiras, às 18:00, com convidados especialistas em várias áreas do saber, da botânica à biologia, história, medicina, conservação e restauro.
Também estão disponíveis visitas virtuais através da plataforma Google Arts & Culture, em português e inglês, e catálogos de algumas exposições que estiveram patentes no MNAA.
NR/HN/LUSA
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