A luta pela saúde uniu pessoas de todas as idades, que se concentraram ao final da tarde em frente ao hospital de Chaves, inserido no Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD).
Devido à indisponibilidade dos médicos para realizar mais horas extraordinárias além das 150 previstas na lei, em novembro está previsto o fecho de serviços como a urgência médico-cirúrgica, a urgência e internamento de ortopedia e ainda a urgência pediátrica.
Esta última tem encerrado em vários períodos, desde a Páscoa, com o atendimento a fazer-se na sede social do CHTMAD, em Vila Real, localizado mais de 70 quilómetros de Chaves.
A maioria dos participantes trazia vestida uma camisola preta onde se podia ler “Alto Tâmega e Barroso unido pela nossa saúde” e alguns empunhavam cartazes com as mensagens: “Fechar é matar, Marcelo e Costa este povo está na bosta”, “Trás-os-Montes também é Portugal”, “Ainda nos resta: o castelo e a ponte romana e as termas, estão interessados?” ou “Queremos equidade nos cuidados de saúde”.
Alberto Morais, 75 anos, veio de Vilarelho da Raia, aldeia que dista cerca de 15 quilómetros de Chaves e faz fronteira com Espanha.
“Para Vila Real são muitos mais quilómetros e já chegamos lá mortos. Estou muito preocupado até pela idade que tenho”, afirmou.
Acompanhado pelo neto menor, o septuagenário disse esperar que o grito de alerta dos transmontanos chegue a Lisboa.
Apesar de se prever o fecho temporário de serviços, muitos temem que possa vir a ser definitivo.
“A população uniu-se porque, quando há fumo, há fogo. Perdermos os serviços de ortopedia, perdermos alguns serviços de cirurgia, perdermos a urgência pediátrica, são aspetos muito importantes e a população está deveras preocupada porque é envelhecida. As questões de saúde são muito preocupantes para todos”, frisou Mariana Carvalhal, de 45 anos, também proveniente de Vilarelho da Raia.
Mãe de duas crianças, de 5 e 10 anos, esta manifestante classificou como uma “grande preocupação não haver urgência pediátrica” em Chaves.
E defendeu que ter “qualidade de vida não é só ouvir os passarinhos a cantar, é ter acesso à educação e à saúde”, frisando ainda que esta “gente é de trabalho, cumpre com as suas obrigações e é legítimo ter acesso à saúde”.
“Acho incorreto fecharam os serviços. O que vai ser de nós? Estou preocupada e muito, é grave. Se isto fecha não temos mais nada aqui próximo. E quem não tem transportes, como vai? É neste país que a gente vive”, salientou Arminda Gama, de 51 anos e residente em Chaves.
António Alves, 55 anos, é de São João da Coveira, Valpaços, e juntou-se ao protesto para mostrar que o povo está unido em defesa do hospital.
“Estamos num momento de crise e é nesses momentos que temos que estar todos presentes”, sublinhou este pai de um menino de 2 anos.
Por seu lado, o presidente da Câmara de Chaves, o socialista Nuno Vaz, afirmou que “esta vigília é de protesto e é de apelo”.
“A população do Alto Tâmega, os seus autarcas e todas as suas comunidades querem aqui dizer a uma só voz que a saúde é algo que é inegociável. A vida não pode ser objeto de transação”, frisou.
O autarca apelou a que se encontrem todos os “instrumentos, meios e recursos” para que a população não fique sem uma resposta adequada.
“E uma resposta adequada não é tê-la a 80, 90 ou a 100 quilómetros, não é tê-la a uma hora ou a uma hora e meia de distância. Isso não é resposta em saúde. Hoje, nos tempos que correm, é inaceitável”, salientou.
Nuno Vaz reclamou que o hospital de Chaves tenha a “capacidade, recursos e meios para continuar a dar respostas à população de forma crescente e não regressiva”.
Por considerar que o problema não é apenas do Governo e do Ministério da Saúde, mas também dos profissionais de saúde, o autarca socialista apelou “à vocação, sensibilidade, dedicação e ao compromisso dos médicos”.
Questionado sobre a reunião de domingo entre os sindicados dos médicos e o Ministério da Saúde, o autarca disse que a “expectativa é que possam encontrar um ponto de equilíbrio e de compromisso”.
Também pressente, o presidente da Comunidade Intermunicipal do Alto Tâmega e Barroso (CIMAT), Alberto Machado, apontou para a falta de capacidade de resposta do hospital durante o mês de novembro.
“Por isso, nós não poderíamos manter-nos de braços cruzados perante esta situação”, afirmou o também presidente da Câmara de Vila Pouca de Aguiar (PSD).
Além desta “sensibilização popular supra partidária”, Alberto Machado lembrou que já foi feito um pedido de audiência urgente ao ministro da Saúde, Manuel Pizarro.
A CIMAT agrega os municípios de Boticas, Chaves, Montalegre, Ribeira de Pena, Valpaços e Vila Pouca de Aguiar.
LUSA/HN
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