Até agora, apenas as fórmulas elementares, para as crianças com APLV severa, eram comparticipadas na sequência de uma portaria de 2019, cuja alteração vai permitir alargar o apoio do Estado às fórmulas extensamente hidrolisadas.
“As fórmulas elementares passam a ser comparticipadas a 90% do valor e as fórmulas extensamente hidrolisadas terão 70% de comparticipação”, indicou em comunicado a ANID – Associação Nacional da Indústria de Alimentação Infantil e Nutrição Entérica e Parentérica.
Trata-se de uma medida “mais justa”, considerou a médica imunoalergologista Sofia Luz, assinalando que o apoio “abrange a partir de agora todas as crianças com alergias alimentares a leite em vez de contemplar apenas 5% dos bebés com APLV”.
A fundadora da plataforma @Senhora_Alergia explicou à agência Lusa, num texto enviado por correio eletrónico, que as fórmulas extensamente hidrolisadas são utilizadas por “95% das crianças com APLV” e custam “2 a 3 vezes mais” do que uma lata de leite em pó para as crianças sem alergias alimentares.
“Estas fórmulas especiais eram, até à data, um peso monetário incrível para estas famílias”, acrescentou.
Sofia Luz disse que a plataforma que criou e a ANID lutaram desde maio de 2022 para “se conseguir a comparticipação das fórmulas extensamente hidrolisadas, ajudando todas as crianças com APLV”.
Segundo a ANID, “a comparticipação de fórmulas extensamente hidrolisadas reduz a necessidade de um número extenso de consultas pediátricas, análises e exames médicos, resultando em menos encargos para o Estado e para as famílias”.
Em declarações à Lusa por telefone, Sofia Luz referiu que a APLV é a alergia alimentar “mais frequente” nas crianças até aos cinco anos, assinalando que, apesar de ter um “bom prognóstico”, já que ao longo da vida 80% das crianças alérgicas ao leite deixam de o ser, é muitíssimo grave quando se tem”, porque se corre “risco de morte”.
“Não há muitas doenças no mundo com um risco de morte em minutos”, como acontece com uma reação alérgica, “daí estas crianças serem portadoras de canetas de adrenalina”.
Estima-se que, em Portugal, 8% das crianças e 5% dos adultos sofram de alergias alimentares, condição que tem “vindo a aumentar cada vez mais” nos países desenvolvidos.
A médica referiu que o seu filho mais velho, atualmente com 15 anos, tem uma alergia alimentar grave a ovos, o que a levou a criar a referida plataforma, nas redes sociais Facebook (agora Meta) e Instagram, para dar apoio às famílias como a dela e que tem “perto de 20.000 seguidores”.
Sofia Luz precisou que dá “dicas de receitas, de produtos de marcas”, informações sobre comparticipações, sobre como “se conserva uma caneta de adrenalina” ou se organiza “um ‘kit’ para a escola”.
Considerando que existe “uma lacuna gigante em Portugal” ao nível da literacia em saúde, a médica também dá, gratuitamente e “com o maior prazer”, formação na área da alergia alimentar nas escolas.
A propósito, lamentou que ainda haja muita confusão sobre ser intolerante a um alimento e ter uma alergia alimentar.
“Em Portugal, neste momento, ainda é quase tudo a mesma coisa para a maioria da população ser intolerante a leite ou ser alérgico”, mas “a verdade é que um intolerante é só uma pessoa que vai ficar mal disposta, porque digere mal a lactose, que é o açúcar, e o alérgico tem uma reação imunológica, o corpo luta contra uma proteína do leite” e a reação “até pode ser ligeira, mas rapidamente escalar para uma reação grave de morte”.
Em relação às alterações à portaria que entram em vigor no dia 01 de novembro, a médica adiantou que, além da referida, a prescrição das fórmulas deixa de estar limitada aos pediatras do Serviço Nacional de Saúde e passa a poder ser feita por especialistas em Imunoalergologia e médicos que trabalhem em hospitais privados.
LUSA/HN
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