“A MSF teme estar a viver-se uma corrida contra o tempo para fazer chegar as provisões médicas certas aos locais certos antes de já não ser possível a ajuda humanitária alcançar as vilas e cidades cercadas militarmente”, afirmou a ONG, num comunicado hoje divulgado.
“À medida que os hospitais do leste ficam sobrecarregados com o aumento do número de traumatizados pela guerra, as suas reservas vão diminuindo e não sabemos que tempo temos até Kiev [capital ucraniana] ser conquistada”, afirmou a coordenadora dos serviços de emergência da MSF na Ucrânia, Anja Wolz, citada no mesmo comunicado.
Na nota informativa, Anja Wolz descreve como está a ser o quotidiano das muitas pessoas que ainda permanecem na Ucrânia, país que enfrenta uma ofensiva militar russa desde 24 de fevereiro.
“Destruição, bombardeamentos aéreos, fogo de artilharia pesada, batalhas com tanques, cidades cercadas, o começo de uma guerra urbana, pessoas a abrigarem-se em ‘bunkers’ e caves e a ficarem sem comida, água e eletricidade: é isso que está a acontecer [na Ucrânia] e está cada vez pior”, relatou a representante.
Segundo adiantou a coordenadora, “a brutalidade, intensidade e velocidade desta guerra é diferente” e “a resposta médica humanitária precisa de ganhar a mesma velocidade”.
Até agora, o foco principal da MSF tem sido enviar material para cirurgias, traumas, emergências e cuidados intensivos.
Mas, segundo refere a ONG, começa a surgir a noção de muitas outras necessidades médicas: insulina para diabéticos ou medicamentos para pacientes com outras doenças crónicas como asma, hipertensão ou HIV.
“Levar os produtos médicos para onde são necessários na Ucrânia será um desafio. Os comboios ainda estão a circular, pelo que constituem uma boa opção, mas as equipes da MSF estão a analisar várias maneiras de transportar material médico para todo o país com segurança”, afirmou a responsável.
“Receio que será cada vez mais difícil transportar material e equipas médicas para onde são mesmo necessários e, por isso, há uma real urgência de agir rápido”, sublinhou.
As equipas da MSF também começaram a dar formação nos hospitais em Lviv e Odessa para ajudar a gerir o grande número de feridos que chegam ao mesmo tempo.
“Além de produtos médicos, também é necessário proteger as pessoas que fugiram das suas casas sob temperaturas extremamente baixas, como sete graus negativos”, alertou a organização, lembrando que este frio “pode matar” e há “centenas de milhares de pessoas que se concentraram em Lviv [oeste da Ucrânia] ou a caminho das fronteiras húngaras, polacas ou eslovacas”.
Apesar de reconhecer a necessidade de a organização se aproximar das áreas onde há combates ativos “para realizar trabalho médico prático”, a coordenadora da MSF para a Ucrânia sublinha que essa decisão que não pode ser tomada de ânimo leve.
“Estamos a avaliar vários locais e opções e tomaremos decisões nos próximos dias”, concluiu.
A guerra na Ucrânia entrou hoje no 16.º dia, sem que se conheça o número exato de baixas civis e militares.
A ONU contabilizou 564 mortos e 982 feridos civis, até quinta-feira, incluindo 41 crianças mortas e 52 feridas.
Também segundo dados da ONU, a guerra forçou 4,5 milhões de pessoas a fugir de casa, das quais 2,5 milhões procuraram refúgio nos países vizinhos, na pior crise do género na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão da Ucrânia foi condenada pela generalidade da comunidade internacional e levou à imposição de sanções à Rússia em praticamente todos os setores, da banca ao desporto.
LUSA/HN
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