França impõe recolher obrigatório às 18:00 em mais oito distritos

10 de Janeiro 2021

Perante a ameaça de variantes mais contagiosas de covid-19, o governo francês decidiu neste sábado impor o recolher obrigatório em oito distritos, mas os responsáveis eleitos locais estão contra a medida, cuja eficácia contestam.

Numa visita a Tarbes, no sudoeste de França, o primeiro-ministro, Jean Castex, anunciou que o recolher obrigatório seria antecipado para as 18 horas em oito distritos, defendendo que são “medidas difíceis, mas necessárias” face a uma “pandemia que não enfraquece, nem sequer se reforça em certas zonas do território”.

O Bouches-du-Rhône, o departamento que inclui Marselha, a segunda maior cidade francesa, juntar-se-á à lista a partir de hoje.

“Esta decisão é particularmente justificada pela deteção de um agregado familiar alargado naquela região com a variante do Reino Unido”, escreve o autarca Christophe Mirmand em comunicado.

Numa família francesa de cinco pessoas, residente no Reino Unido e que veio a Marselha para as férias, foi identificado um caso da variante britânica do coronavírus, após um teste realizado a 31 de dezembro, anunciou a Agência Regional de Saúde em comunicado de imprensa.

Posteriormente, foram identificadas 45 pessoas de contacto, 23 das quais tiveram resultados positivos no teste da covid-19. Outros testes estão agora a ser realizados “para determinar se é a variante britânica”, acrescentou o ARS, referindo-se a um “provável agrupamento familiar”.

A situação é “particularmente preocupante” naquele departamento, com uma taxa de incidência superior a 225 por 100.000 habitantes, de acordo com o presidente daquela região.

As oito regiões francesas onde o recolher obrigatório vai avançar juntam-se a outras 15, principalmente no leste de França, que já estão sujeitas a esta medida há uma semana. No resto do território francês, o recolher obrigatório é às 20:00.

Isto provoca o descontentamento dos responsáveis locais, como é o caso do presidente da Câmara de Vaucluse (sul), Jean-François Lovisolo. “Estamos muito reservados quanto à utilidade de tal medida em termos de saúde nas zonas peri-urbanas e rurais do departamento. Às 18 horas, a população de risco já está em casa e vamos colocar lojistas, restaurantes ‘take-away’, estações de serviço e padarias em dificuldade”, disse à agência de notícias francesa AFP.

Para o governo, o recolher obrigatório, aplicado pela primeira vez no final de outubro, ajudou a abrandar a contaminação. Mas os críticos defendem que a medida não impediu um segundo confinamento.

Eric Caumes, chefe do departamento de doenças infecciosas do hospital Pitié-Salpêtrière, em Paris, não esconde o ceticismo: “Não sei se é muito eficaz, mas vamos ver. Pessoalmente, não acredito nisso, mas vamos ver”, afirmou este sábado de manhã.

Entretanto, também este sábado estava em curso uma enorme operação de rastreio em Bagneux, nos arredores de Paris, onde uma pessoa teve resultado positivo no teste à variante britânica do novo coronavírus.

Com o surto descoberto em Bouches-du-Rhône, 40 casos de contaminação por esta variante estão agora confirmados em toda a França (bem como outros três, por uma variante diferente, inicialmente identificada na África do Sul), de acordo com o Ministério da Saúde.

Desde terça-feira, o número de casos positivos no país foi de cerca de 20.000 por dia e a Agência Francesa de Saúde Pública registou um “claro aumento no número de casos confirmados” durante a última semana de 2020 (96.743 casos, mais 17%).

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.914.057 mortos resultantes de mais de 88 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo o último balanço feito pela agência francesa AFP.

LUSA/HN

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