O médico já não ia a Rebordelo, no concelho de Vinhais, “muito anteriormente à covid”, como testemunhou à Lusa o presidente da junta de freguesia, Marcos Pimentel.
Nesta aldeia do distrito de Bragança, estava estipulada a presença do médico duas vezes por mês.
“Passou a vir uma vez por mês, até que deixou de vir”, contou o autarca.
Nessa ocasião, a junta de freguesia garante ter “reclamado junto do centro de saúde de Vinhais e da Unidade Local de Saúde (ULS) do Nordeste”, mas sem sucesso.
O presidente da junta disse à Lusa que continuaram a pressionar a entidade responsável pelos serviços de saúde na região, e que obteve recentemente a garantia do presidente da ULS do Nordeste de que “a situação iria ser regularizada depois da covid”.
A autarquia está, junto com a Câmara de Vinhais, “a fazer um esforço para ter condições condignas” para o serviço de saúde, com um investimento de 150 mil euros em obras na sede da freguesia para reabilitação e melhoramentos.
O objetivo é “criar condições para que o médico regresse”.
Na aldeia há cerca de 500 habitantes, muitos dos quais acabaram por transferir os processos de médico de família para o centro de saúde na sede de concelho, Vinhais.
O número de utentes reduziu, o que pode prejudicar a reivindicação do regresso do médico, admitiu o autarca, que acredita ter outros argumentos como “o bom exemplo de parceria” que foi o processo de vacinação contra a gripe.
“Só deu mais valor trazer os médicos às aldeias e não deslocar as pessoas das aldeias”, enfatizou.
Na freguesia de Ligares, em Freixo de Espada à Cinta, a extensão de saúde ficou vazia desde que morreu, em maio de 2018, a médica que mais amiúde ia à aldeia, contou à Lusa o presidente, Ademar Bento.
Nesta aldeia, havia consultas duas vezes por semana e tempos houve em que iam lá dois médicos.
O tempo foi passando e, aos telefonemas a perguntar se iria alguém, a resposta do centro de Saúde de Freixo de Espada à Cinta para a extensão de Ligares, era sempre a mesma: “hoje não há médicos”.
Só mais tarde é que a freguesia foi informada de que a ia fechar e o pessoal da saúde só regressou à aldeia para ir buscar o equipamento à extensão que funcionava na sede da junta.
A autarquia local atenuou a situação com uma parceria com uma farmácia de Torre de Moncorvo, que vai uma vez por semana a Ligares levar medicação.
Naquele a que continuam a chamar “o posto médico”, os técnicos da farmácia aproveitam a deslocação para fazer alguns exames às pessoas, para acompanhamento da situação de saúde.
A junta disponibiliza também à população um podologista, uma vez por mês.
Nas aldeias da União de Freguesias de Aveleda e Rio de Onor, em Bragança, é também a junta que presta alguns serviços de proximidade às populações.
Segundo o presidente, José Preto, só a uma das aldeias, Guadramil, é que ia o médico uma vez por mês, mas deixou de ir desde que começou a pandemia de covid-19.
A união de freguesias integra, ainda, Varge e, para as quatro aldeias, a junta tinha contratado por conta própria uma enfermeira para acompanhar as populações, que deixou de com a pandemia.
A união de freguesia está agora a “tentar fazer um protocolo com a Cruz Vermelha de Bragança para as equipas desta instituição passaram a ir às aldeias fazer vacinação, medir tensões e outros atos importantes para a saúde e, sobretudo falar com bocadinho com os velhotes, que é o que eles mais precisam”.
Também no concelho de Bragança, o presidente da junta de freguesia de Babe, Alberto Pais, assegurou à Lusa que a extensão de saúde da aldeia tem funcionado, em moldes diferentes.
Segundo contou, desde as restrições impostas logo no início da pandemia, “que não é de forma presencial, mas a médica tem acompanhado os utentes”.
“Vai ligando, não tem é ido à extensão”, explicou.
As pessoas ainda não se queixaram, nem têm pedido nada ao presidente da junta, pelo que conclui que está a correr bem, até porque a aldeia tem um serviço de entrega de medicamentos há vários anos, que assegura o essencial para as doenças associadas à idade avançada da população.
O que o presidente da junta espera é que, quando houver o regresso à normalidade, a médica regresse também à aldeia e que a atual situação não seja para sempre.
“Não podemos deixar acabar os serviços”, afirmou.
A Lusa questionou a Unidade Local de Saúde (ULS) do Nordeste sobre o número de extensões de saúde existentes no distrito de Bragança e como estão a funcionar, nomeadamente depois das restrições impostas pela pandemia nos serviços de saúde.
Aquela entidade respondeu, por escrito, que “atendendo à atual situação de pandemia, os serviços na área dos Cuidados de Saúde Primários da Unidade Local de Saúde (ULS) do Nordeste, em que se integram os Centros de Saúde e as Extensões de Saúde, foram alvo de uma reorganização”.
A entidade não concretiza os termos da reorganização que justifica para “dar resposta às necessidades dos utentes, no estrito cumprimento das normas e das diretrizes da Direção-Geral da Saúde ao nível da prevenção de contágios por SARS-CoV-2”.
A ULS do Nordeste refere que “as equipas do Departamento de Cuidados de Saúde Primários têm vindo a garantir o acompanhamento de todos os utentes da sua área de abrangência, assegurando o melhor acesso aos serviços, com a necessária segurança”.
LUSA/HN
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