As palavras de Li Keqiang, que constam no relatório de trabalho do Governo apresentado hoje, na abertura da sessão anual da Assembleia Popular Nacional (APN), representam mais um passo no desmantelamento da rígida política de ‘zero covid’, que vigorou no país nos últimos três anos e ditou o bloqueio de cidades inteiras, durante semanas ou meses, e o encerramento praticamente total das fronteiras.
Lembrando que a pandemia “não acabou”, Li Keqiang apontou no relatório que o país entrou numa “fase de ações reguladas” contra a doença. Em 08 de janeiro, o país reduziu o nível de gestão da doença da categoria A – nível de perigo máximo – para B.
O primeiro-ministro indicou que a China “conseguiu proteger eficazmente a segurança e a saúde das pessoas”, depois de relaxar as medidas de prevenção, em dezembro passado.
O súbito fim da política de “zero casos” ocorreu após protestos realizados em várias cidades da China. O levantamento das restrições, sem estratégias de mitigação ou uma preparação adequada do sistema de saúde, deixou famílias a lutar pela sobrevivência dos membros mais idosos, segundo contaram à agência Lusa residentes em diferentes cidades da China, à medida que uma vaga de infeções inundou os hospitais e crematórios do país.
“O povo chinês superou muitas dificuldades e fez grandes sacrifícios”, disse Li. A China alcançou uma “grande vitória decisiva” contra a pandemia, afirmou.
Apesar do desmantelamento da estratégia, a sessão plenária da APN, o órgão máximo legislativo da China, manteve medidas de prevenção epidémica.
Os participantes no encontro, com exceção dos quadros mais altos do Partido Comunista Chinês (PCC), têm que usar máscara. Os jornalistas tiveram de fazer um teste de ácido nucleico na véspera e permanecer em quarentena num hotel designado pela organização.
No mês passado, a liderança do PCC proclamou que, após uma “jornada extraordinária”, o país alcançou uma “vitória decisiva”, após o desmantelamento das restrições.
“A China criou um milagre na história da humanidade, no qual uma nação populosa conseguiu superar uma pandemia”, descreveram os líderes chineses, numa declaração do Comité Permanente do Poliburo do PCC, a cúpula do poder na China. “Ficou assim demonstrado que o PCC julgou corretamente a situação da pandemia e que adotou as medidas e os ajustes certos das estratégias de prevenção”, acrescentaram.
Os hospitais chineses registaram 83.150 mortes causadas por infeção pela covid-19, entre 08 de dezembro, altura em que a China começou a desmantelar a estratégia “zero covid”, e 09 de fevereiro, segundo dados divulgados pelo Centro de Controlo de Doenças (CDC) do país asiático.
Especialistas afirmam, no entanto, que os dados de mortalidades estão “certamente aquém” da realidade.
“Os dados são certamente uma subestimação do número real”, afirmou à Lusa o epidemiologista e estatístico na área médica Ben Cowling, apontando que os testes laboratoriais de deteção do vírus “deixaram de ser realizados com frequência nos hospitais”, pelo que a “maioria dos casos, hospitalizações e mortes pela doença [na China] não foi confirmada laboratorialmente”.
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