Incertezas sobre gestão da pandemia dificultam projeções para o Brasil

30 de Dezembro 2020

As incertezas em relação a gestão feita pelo Governo brasileiro da crise sanitária e dos efeitos económicos da pandemia de covid-19 dificultam projeções sobre o país em 2021, alertam analistas ouvidos pela Lusa.

A socióloga Rosemary Segurado salientou que, do ponto de vista político, 2021 será um desafio para o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, cuja imagem começa a sofrer desgaste devido à sua postura negacionista em relação à pandemia.

“Estamos a caminhar para 200 mil mortos, somos o segundo país com mais mortos do mundo. Parece-me que o Presidente não tem dado a devida importância a isto. Embora ele [Bolsonaro] ainda tenha uma base de apoiantes importante, a imagem dele tem vindo a desgastar-se muito”, disse.

Por outro lado, o “Governo não tem nenhum planeamento. Nada, nem sobre as vacinas. É uma coisa bastante preocupante. As pessoas não sabem o que vai acontecer em janeiro”, referiu Rosemary Segurado.

O economista Nelson Marconi, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), considerou que, embora o Governo brasileiro espere um desempenho económico positivo no próximo ano – o último Boletim Macroecómico do Banco Central projetava um crescimento de 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021 -, é um erro esperar uma recuperação sem um programa eficiente de vacinação em massa contra a covid-19.

“Primeiro precisamos de ver qual vai ser a extensão desta pandemia, como o Governo vai gerir esta pandemia e quando nos vamos conseguir imunizar. O Brasil é um país maior do que outros em termos populacionais e territoriais, está muito mal-organizado, não teremos acesso a uma série de vacinas que outros países estão a ter”, explicou.

Por isso, “o Brasil não vai ter uma recuperação adequada do ponto de vista económico se não tiver uma estratégia adequada do ponto de vista do combate à pandemia”, acrescentou Marconi.

Para o professor da FGV, um segundo elemento importante para observar na economia brasileira em 2021 é o financiamento da dívida pública do país, que disparou por causa da crise de saúde pública.

“O Governo está a aumentar os gastos, uma coisa que precisaria mesmo de ocorrer, mas está a financiar [a dívida] da forma tradicional e isto pressiona as taxas de juros e uma série de despesas, que no futuro vão complicar a situação e até mesmo o raio de manobra do Governo para fazer políticas públicas”, sublinhou.

Rosemary Segurado também recordou que o fim dos subsídios de emergência aos mais pobres poderá criar uma “combinação bastante complexa” para o Brasil em 2021, e até mesmo influenciar as possibilidades de reeleição do Presidente.

“Com um cenário desfavorável, com a sua popularidade em queda, com uma falta de solução concreta e imediata para estes problemas, que não podem ficar para amanhã, como a vacina e a alimentação, se o Presidente começa a perder popularidade, começará a perder uma articulação política de apoio à continuidade de seu Governo e à sua reeleição”, explicou a socióloga.

Ao longo do seu mandato, Bolsonaro tem insistido em três prioridades para o país: corte de gastos, privatizações e reformas (administrativa e fiscal). Mas Marconi diz que esse é um caminho errado.

“A única solução para retomar o crescimento, e inclusivamente ter um clima melhor para fazer as reformas, seria o Governo retomar o investimento público”, sublinha o economista, lamentando que, pelo contrário, o Governo insista na necessidade de cortar mais gastos para a economia recuperar.

“É o contrário do que o mundo está a fazer. Esta estratégia do Governo não vai dar certo num momento de crise”, conclui Nelson Marconi.

NR/HN/LUSA

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